domingo, 4 de janeiro de 2015

Resenha | A Espantosa Vida de Octavian Nothing - M.T. Anderson

“De semblante posto no chão – e todavia negando resposta – ele sussurrou: – Nunca morei nem dentro de mim mesmo”

M. T. Anderson, autor de Octavian Nothing, é formado em literatura de língua inglesa pelas Universidades de Harvard e Cambridge, e autor de vários romances para o público jovem. Octavian rendeu-lhe o National Book Award, o Michael L. Printz Honor e o Boston Globe - Horn Book Award.

Octavian é um garoto criado numa casa de intelectuais da segunda metade do século XVIII, localizada em Boston. Ele recebe, desses intelectuais, uma educação de príncipe, o que lhe proporciona um intelecto invejável. Fala Latim e Grego, toca violino com maestria – sua grande paixão – e domina a literatura clássica. Sua mãe, Cassiopéia, é uma princesa oriunda de um país distante, a qual se torna objeto de desejo dos acadêmicos obtendo sempre mimos, elogios e todas as atenções para si.

Caso as ponderações desta resenha parassem por aqui, o que se esperaria do livro seria uma estória repleta de romantismo, cavalheirismo, lirismo platônico e descrições apaixonadas de campos abertos, dias ensolarados e um amor inabalável. Mas o fato é que há uma característica primordial que escapou (claro, propositalmente) a essa pequena descrição: Octavian e sua mãe eram escravos negros.

Hesitei bastante em revelar o fato de os dois serem negros, pois não nos é narrado logo no início, mas não demora a ser percebido e “confessado” pelo narrador.

A narração é feita pelo próprio protagonista o que nos proporciona um léxico rebuscado (visto que o mesmo é um intelectual) e bastante exato, típico do século XVIII. O inglês arcaico e estilo do período é adaptado a propósitos ficcionais modernos, como é observado pelo próprio autor em nota. As soluções do tradutor são bastante pertinentes e competentes, vale a pena conferir a tradução.

Como pano de fundo temos a Guerra Revolucionária, fato que é essencial no decorrer e desfecho do romance. As cenas de ação, marcadas pelo pretérito imperfeito, são fluidas e extremamente envolventes.

O tom é melancólico e sarcástico, típicos desse autor que chama a atenção para injustiças sociais e desvios de caráter e que assombram o convívio social até a contemporaneidade. Questões cosmológicas, filosóficas e sociológicas são colocadas em xeque, mas é preciso atenção para percebê-las.